Voltei recentemente de uma viagem de 23 dias por Portugal, Irlanda e Noruega (que ainda vou compartilhar muito por aqui, mas já tem vários relatos no Instagram) e, na volta, fiquei em Casablanca, no Marrocos, para uma conexão longa, e agora conto para vocês como foi minha experiência por lá.
Deixo claro desde o início que essa é a minha experiência, e que cada viagem é única e pode ser completamente diferente. Se alguém teve uma percepção ou experiência diferente: ótimo! Aqui estou só compartilhando a minha.
Como já contei outras vezes aqui, eu aproveitei uma promoção por R$ 604,06 ida e volta de São Paulo a Lisboa, e no voo de volta eu podia escolher se a conexão em Casablanca seria de 1h30 ou de 23h… E como a cidade, apesar de grande, tem pouquíssimos pontos turísticos a serem explorados, resolvi ficar 23h e conhecer.
A Royal Air Maroc, companhia aérea marroquina com a qual viajei, oferece hospedagem, transporte e alimentação de graça a todos os passageiros com conexão de mais de 8h em Casablanca, então eu aproveitei a oportunidade de conhecer mais um destino pagando quase nada (gastei só € 17,00, com o tour que fiz pela cidade).
Eu viajei sozinha e, por não ser a primeira vez, estava tranquila em Portugal, na Irlanda e na Noruega, mas confesso que a ideia de ir para o Marrocos sem companhia me assustou um pouco.
Felizmente, conheci dois brasileiros ainda no aeroporto de Casablanca (que também tinham aproveitado a mesma promoção!) e combinamos de fazermos o tour pela cidade juntos.
Como a acomodação é pedida no aeroporto, no momento do desembarque, não tem como saber antes em qual hotel a companhia oferecerá a hospedagem, então a dica para quem vai dividir o tour com mais pessoas é irem juntos solicitar a acomodação, já que assim, mesmo se as passagens não estiverem no mesmo localizador, a acomodação pode ser providenciada para todos no mesmo hotel.
Na noite em que cheguei em Casablanca, tentei negociar o preço com um taxista (como eu já tinha lido antes em todos os sites em que pesquisei, é da cultura deles ter que negociar o preço de tudo! Um dia antes de ir, li um post em que a pessoa começou uma negociação em 1.000 dirhams, moeda do Marrocos, e acabou pagando 50!) para irmos ao La Bodega, um bar/restaurante/night club espanhol que fica no centro da cidade.
O taxista falou que o preço de ida e volta ao centro de Casablanca era € 50,00 (o que eu já tinha lido na internet que era a média, mas muita gente disse que negociou e conseguiu por € 45,00 ou € 40,00). Assim que eu comecei a falar para propor € 40,00, ele levantou a mão com a palma aberta (como quem diz “para de falar”) e começou a falar, me interrompendo. Tentei falar de novo e ele só repetia “no, no, no!” com a mão aberta.
Eu estava com os dois brasileiros que conheci no aeroporto (ambos homens), que não falavam bem inglês, por isso eu é que estava tentando negociar, mas simplesmente não conseguia falar. Cada vez que eu abria a boca, o taxista me interrompia. Quando um dos dois começou a falar, o taxista ficou quieto e ouviu.
Como só iríamos a um bar e voltaríamos cedo pra fazermos o tour na manhã do dia seguinte, depois do estresse (e do preço, que era o mesmo só para irmos ao bar e para fazermos todo o tour) acabamos desistindo de sair. O taxista foi bem agressivo e eu tive certeza de que com ele eu não iria, e fiquei aliviada que os dois também não quiseram ir.
Na manhã do dia seguinte, falei com outro taxista, que me deixou falar e negociou o preço sem ser agressivo. Fechamos por € 45,00 as 3h de tour (que acabaram virando 4h, porque ele não nos apressou e nós fizemos tudo com calma, então no final pagamos € 50,00) para conhecermos a Mesquita Hassan II, a Medina e La Corniche, a região das praias.
Para quem vai sozinho, especialmente mulheres, não recomendo fazer o percurso por conta própria de trem, ainda que seja possível. Acho que vale a pena contratar o tour com um taxista (na frente do hotel ou pedindo para alguém da recepção chamar, já que eu também não arriscaria pegar qualquer um na rua). Também é possível contratar um tour privado com uma agência, mas achei muito mais caros para fazer o mesmo percurso e, pelo menos os que eu vi, era preciso pagar antecipadamente.
Fomos até a Mesquita Hassan II, e, enquanto os brasileiros tiravam fotos um do outro, eu me afastei e andei sozinha por lá, e confesso que não me senti confortável. Além do jeito que fui olhada, muitos homens falaram coisas (que eu não entendi, mas soube que claramente não eram respeitosas) para mim, inclusive um segurança da mesquita. De novo: isso foi o que aconteceu comigo, não estou dizendo que vá acontecer com todo mundo.
Mas o que me deixou realmente incomodada foi na Medina, o mercado de compras deles. Eu já cheguei pensando em negociar preços (repito: isso é da cultura deles), mas fiquei surpresa que NINGUÉM com quem falei negociava ou queria falar comigo.
Eu pedi desconto de € 1,50 na primeira barraca em que parei (o total pelas 5 bolsinhas que eu queria era € 5,00 e eu ofereci € 3,50), e o vendedor foi extremante grosseiro comigo. Ele pegava várias coisas etiquetadas com o preço de € 2,00, entregava para os brasileiros e dizia “aqui, faço por € 1,00!”, mas simplesmente se negou a negociar qualquer centavo comigo, sempre falando de um jeito hostil. Como não gostei do tratamento, agradeci e decidi procurar em outra barraca.
Pedi para os brasileiros me esperarem lá, já que eles ainda estavam olhando e comprando o que queriam, e saí caminhando sozinha pela Medina… E fui seguida por um homem enquanto andava. Fiquei morrendo de medo e voltei a encontrar os brasileiros, que quando me viram já falaram “tinha alguém te seguindo, né? Ele te seguiu desde que saiu daqui”. Sei que eles têm o costume de seguir os turistas por lá para vender coisas, mas claro que não foi agradável ser seguida por um homem depois de ser tratada como fui pelo vendedor, ainda mais porque ele não estava tentando me vender nada, só foi me seguindo quieto o tempo todo!
Quando voltei a encontrar com os brasileiros, um senhor que viu como o primeiro vendedor tinha me tratado disse para irmos em outra loja que também teria as bolsinhas, e nos mostrou o caminho. Chegando lá, a mesmíssima coisa: o vendedor oferecia todos os descontos para os brasileiros, mas não negociava comigo e me tratou de forma péssima.
Um dos brasileiros perguntou quanto custava um lenço, e o vendedor respondeu que era € 20,00. Ele agradeceu e continuou andando. O vendedor veio atrás e falou “€ 10,00!”. O brasileiro olhou de novo o lenço, pegou na mão, mas agradeceu e saiu andando. O vendedor gritou “€8,00, eu faço por € 8,00!”. Aí confesso que não aguentei e perguntei para ele por que o preço começou em € 20,00, ele estava oferecendo por € 8,00 sem ao menos pedirem desconto, mas ele não negociava sequer € 0,50 comigo. E então o vendedor virou para os brasileiros e, como já tinha dito quando cheguei na loja, repetiu “dura! Ela é muito dura!” (no sentido de brava/durona).
Ainda sem acreditar que não conseguiria comprar o que queria sem correr perigo ou ser destratada (sim, sei que deveria ter desistido muito antes! Abaixo tem foto da bolsinha da discórdia), falei para os brasileiros que iria procurar em outra barraca, perto, onde eles conseguissem me ver. Perguntei se o vendedor tinha outras cores das bolsinhas que eu estava vendo, e ele disse “sim, por aqui!”, e começou a andar. Achei que seria do lado, mas ele andou bastante, até que entrou em um corredor minúsculo e, por já estar longe e fora da vista dos brasileiros, fiquei com medo e voltei correndo.
Acabei saindo de lá sem comprar nada. Poderia ter comprado o que queria sem desconto? Com certeza, já que tinha o dinheiro, mas, pelo jeito que fui tratada pelos vendedores, não achei que valia a pena, especialmente porque vi que com os homens não era assim.
Sei que muita gente já foi sozinha para Casablanca e não teve nenhum susto, mas, por tudo o que vi e como fui tratada, não posso recomendar que mulheres andem sozinhas por lá. Eu perguntei para o motorista que nos levou e ele disse que, se eu estivesse sem os brasileiros e pedisse, ele poderia ir comigo nos lugares, já que ele ficou sempre no carro nos esperando, e nós andávamos sozinhos. Assim, recomendo que, quem quiser ir sozinha, contrate o tour com um motorista e peça para ele ir junto.
Sei, também, que essa é uma cultura bem diferente da nossa, e que tudo o que eu relatei pode ser estranho para nós, mas é normal para eles. Não estou dizendo se é certo ou errado como me trataram, já que faz parte da cultura deles, mas contando aqui para que as mulheres que forem (porque nada disso aconteceu com os brasileiros e eles mesmos falaram quando fomos embora “como eles são machistas aqui, né?”) saibam que pode acontecer algo assim, e que é bom estarmos atentas.
Como cada experiência é única e pode ser completamente diferente para outras pessoas, acho que, se é um desejo conhecer Casablanca ou outros lugares no Marrocos, vale a pena ir sozinha sim. Basta estar consciente (eu já tinha lido vários relatos parecidos antes de ir, mas nem por isso deixou de ser um incômodo passar por essas coisas, né?!), preparada e saber levar com leveza qualquer coisa que aconteça!
Eu sinceramente só voltaria sem companhia se contratasse um tour que me acompanhasse em todos os lugares, já que, mesmo consciente do que pode acontecer por lá, ser tratada assim é algo que me incomoda, mas acho que aí depende mesmo de como cada um reage e se sente!
Quer saber mais sobre esses 23 dias viajando sozinha por Portugal, Irlanda, Noruega e Marrocos? Está tudo salvo nos destaques do meu Instagram!
Olá boa madruga.. Amei o seu relato e abriu a minha mente e desde já muito obrigada por seu relato. Estamos pensando em ir pra alemanha porém nessa companhia nos deu a opçao de ficarmos 23h sendo assim seria basicamente o mesmo que você, vamos seguir as suas dicas e crendo dará tudo certo.. Ahh so uma dúvida chegando lá eles carimba o passaporte? Nunca me imaginei ir pra Marrocos, mas sei lá vamos aproveitar a oportunidade e esperamos ser um sucesso.
Obrigada novamente, e sucesso sempre e muita viagens sua linda
Vai dar tudo certo sim, só ficar atenta e ciente de como funcionam as coisas por lá!
Carimbam! Entrada e saída (as duas foram na última folha do passaporte, diferentemente da Europa, onde eles sempre carimbaram em ordem das folhas livres).
Clarooo, não dava pra deixar passar essa oportunidade de conhecer mais um destino na mesma passagem! Torcendo pra tua viagem ser incrível!!
Obrigada pela mensagem e muitas viagens pra ti também! 💖